O Manuscrito Voynich tornou-se o foco de intensa discussão acadêmica desde sua descoberta, e alguns dos melhores criptógrafos do mundo vem tentado inutilmente quebrar seu código secreto há décadas. Ao longo de sua história, "o mais misterioso manuscrito do mundo" teve sua origem muito debatida entre estudiosos. A verdade é que até hoje ninguém sabe precisar quem teria escrito o Manscrito, qual o idioma usado e quais os segredos que ele guarda.
O Manuscrito nos Tempos Medievais
A primeira menção conhecida ao Manuscrito Voynich surgiu na Corte de
Imperador Rudolph II do Sacro Império Romano Germânico. Rudolph
(1552-1612) era um governante fraco que manteve o poder apenas até os
arquiduques Hapsburgos retirarem seu apoio e o substituir pelo seu irmão
Mathias. Para Rudolph assuntos de Estado eram muito menos importantes
que ciência e alquimia. Sua corte em Praga se tornou a capital para
homens letrados, estudiosos - incluíndo o astrônomo Johannes Kepler - e
charlatães de toda a Europa. Todos buscavam o favor do Imperador que
cobria seus cientistas favoritos com riqueza.
Foi nessa época que Rudolph II adquiriu o Mauscrito Voynich, comprado de
um vendedor desconhecido pelo montante de 600 ducados - uma quantia
inacreditável para um livro que ninguém era capaz de ler. Fontes afirmam
que o Imperador acreditava que o livro fora escrito por Roger Bacon (c.
1220-1292), um famoso monge inglês.
Roger Bacon era um grande pensador e passou a maior parte de sua vida
estudando a filosofia, ciência e alquimia. Ele fez relativamente poucas
descobertas científicas (embora ele tenha investigado a natureza da luz e
proposto o uso de pólvora para a guerra), mas é melhor conhecido por
suas idéias inovadoras na criação de um procedimento de experimento como
forma de descoberta.
Alguns historiadores afirmam que Bacon além de ser um alquimista era
também um mago, envolvido com magia e evocação de anjos. Seus pontos de
vista incomuns e rivalidade com seus colegas acadêmicos lhe renderam
muitos inimigos e no final da vida ele foi preso por razões
desconhecidas.
Entre seus trabalhos mais importantes despontam Opus Major, Opus Minus e
Opus Tertius que são consideradas obras essenciais na história das
ciências. Muitos estudiosos afirmam entretanto que o Manuscrito Voynich
não foi escrito por Bacon.
Não há menção nenhuma a esse livro em sua biografia e uma obra desse
tamanho sem dúvida chamaria a atenção. Bacon tinha conhecimento de
criptografia - aliás como boa parte dos estudiosos da época - mas se o
documento foi escrito com um alfabeto codificado, trata-se de algo muito
mais complexo do que qualquer código secreto empregado no Século XIII.
Alguns apontam para uma inscrição no livro que identificaria Bacon como o
verdadeiro autor, mas tudo indica que esse trecho tenha sido o trabalho
inteligente de um falsário. Um livro creditado a Bacon, afinal de
contas, teria grande valor. Outras evidências contidas nas págians do
manuscrito, tais como diagramas do que parecem ser plantas do Novo
Mundo, sugerem que o Manuscrito Voynich não pertence a época de Roger
Bacon.
Se o Mauscrito não é um trabalho de Roger Bacon, então quem é o
responsável por ele? É possível que o responsável seja outro indivíduo
extremamente enigmático, o médico e mago da Rainha Elizabeth I, John Dee
(1527-1608).
Entre 1584 e 1588, Dee visitou Praga várias vezes como convidado de
Rudolph II. Sabe-se que Dee tinha muito interesse em Criptografia, e
possuía uma grande coleção de livros que pertenceram a Roger Bacon em
sua biblioteca. Além disso, durante sua estadia em Praga, Dee mencionou
em um de seus diários o pagamento de 630 ducados, aproximadamente o
mesmo valor desembolsado por Rudolph II para comprar o livro.
Alguns também afirmam que a caligrafia usada para numerar as páginas do
livro é muito semelhante a letra de Dee. Então seria possível que o
manuscrito tivesse chegado às mãos do Imperador através de Dee.
Após seu surgimento em Praga, o manuscrito se tornou conhecido na corte.
Testes revelaram que a assinatura de Jacobus de Tepenecz, um botânico e
alquimista à serviço de Rudolph II, está na primeira página do livro.
Acredita-se que o Imperador tenha emprestado o livro a Tepenecz por
volta de 1610 para que ele tentasse traduzir suas páginas e que por
ocasião da morte de Rudolph o livro tenha ficado com o botânico.
Ele então passou por várias pessoas, até ser deixado como herança para
um filósofo italiano chamado Joannes Marcus Marci (1595-1667). Pouco
antes de morrer, Marci enviou o manuscrito para seu amigo Athanasius
Kircher (1602-1680). Kircher foi o criador da "Lanterna Mágica" (um tipo
de ancestral do projetor de slides) e era considerado um expert em
criptografia. Ele tentou sem sucesso decodificar o Manuscrito Voynich e
antes de sua morte o livro desapareceu sem deixar vestígios.
A Redescoberta
Em 1912, um negociante de livros raros chamado Wilfrid M. Voynich
encontrou o manuscrito oculto no fundo de um antigo baú em Frascati,
Itália. O livro estava junto com outros volumes que traziam o carimbo de
bibliotecas particulares de casas nobres italianas. Como ele apareceu
na Itália ninguém sabe ao certo. Voynich já havia ouvido falar a
respeito do Manuscrito e ansioso por desvendar o mistério enviou cópias
do alfabeto misterioso para experts em criptografia. A maioria afirmou
que seria capaz de quebrar o código rapidamente, mas nenhum deles
conseguiu obter sucesso.
A primeira das muitas "soluções" para o mistério apareceu em 1921,
quando o Professor William Romaine Newbold da Universidade da
Pennsylvania alegou ter decifrado o enigma. O primeiro estágio para
desvendar o código, de acordo com Newbold, era compreender que cada
letra do misterioso alfabeto era uma corruptela de um alfabeto grego
antigo. Para decifrar o texto, era necessário submeter as palavras a um
complicado processo envolvendo duplicar letras, usar pares de palavras
para criar novos símbolos, alterar a fonética e re-arranjar as letras em
uma sequência específica (entendeu? pois é, nem eu!).
Os estudiosos concordaram que era um processo extremamente complicado e
lançaram dúvidas sobre sua validade. Newbold anunciou que o Manuscrito
Voynich havia realmente sido escrito por Roger Bacon (como supunham
alguns) e que o conteúdo era incrível. Segundo a versão de Newbold,
Bacon tinha vasto conhecimento de fatos científicos que apenas seriam
descobertos séculos depois, tais como a existência da Nebulosa
espiralada de Andromeda, a construção de lentes para observação
astronômica e o processo de criação de ligas metálicas. A descoberta
deveria ser uma das mais significativas da história e colocaria Bacon
entre os maiores cientistas de sua época, talvez de todos os tempos.
Newbold morreu em 1927, e seu trabalho "O Código de Roger Bacon" foi
publicado no ano seguinte. Após a euforia, muitos estudiosos começaram a
expressar suas dúvidas a respeito do processo empregado por Newbold.
O maior crítico da teoria era John M. Manly, que demoliu as alegações de
Newbold em um artigo escrito em 1931 e publicado no Speculum, uma
respeitada revista sobre estudos medievais. Manly começou apontando que o
suposto alfabeto grego pouco conhecido era na verdade o resultado do
clareamento natural da tinta que estava se apagando.
Antes de tudo é preciso deixar uma coisa bem clara. O Necronomicon nunca existiu, trata-se de uma obra de ficção inventada por H.P. Lovecraft. Mas é impressionante quantas pessoas acreditam (ou pior) querem acreditar que ele existiu - ou ainda existe
Ele comentou que mesmo se o alfabeto tivesse existido, o sistema de
Newbold de re-arranjar as letras poderia gerar centenas de traduções
possíveis de cada trecho. Além disso, os textos traduzidos por Newbold
continham uma série de erros históricos, e muitos deles pareciam ser
produto da imaginação do professor.
Com a publicação desse artigo bombástico, o patrocínio ao programa que
visava decifrar o manuscrito desapareceu. Com o passar dos anos, novas
teorias emergiram. Joseph Feely apresentou sua "decifração" mediante
análise das gravuras e uso de latim abreviado.
Leonell Strong acreditava que o livro era um tratado sobre ginecologia
escrito em um alfabeto inglês arcaico. Robert Brumbaugh afirmava ter
solucionado o enigma sobre as legendas em algumas ilustrações, mas não
conseguiu traduzir o texto principal, o que o levou a concluir que o
livro era escrito com mais de um código criptográfico. Um dos mais
recentes exemplos de esforço para decifrar o livro foi feito por Leo
Levitov que afirmava ser o livro um Manual Litúrgico usado pelos Cátaros
- um secto religioso cristão considerado herético na Idade Média.
Levitov acreditava que o livro havia sido escrito em um alfabeto secreto
usado pelos patriarcas cátaros que haviam sido exterminados durante a
perseguição religiosa. No final das contas, nenhuma das soluções foi
capaz de solucionar o mistério.
Voynich faleceu em 1930, e sua viúva manteve o livro até 1960. Por algum
tempo ele ficou em poder de A. M. Nill, um sócio de Voynich que o
vendeu em 1961 para o negociador de livros Hans P. Kraus. Kraus tentou
vender o livro por uma quantia astronômica, mas ninguém teve interesse
de adquiri-lo. Frustrado ele resolveu doar o volume misterioso para a
Biblioteca Beinecke de Yale.
O manuscrito ainda atrai muita atenção do público. Mesmo depois de
tantos anos de esforços por criptógrafos, não é possível sequer afirmar
qual o idioma usado em suas páginas. Alguns acreditam que a maior parte
dos textos são compostos de um alfabeto falso e que apenas alguns
trechos realmente poderiam ser decifrados. Outros defendem que o livro
foi escrito por alguém tentando criar um idioma artificial, ou quem sabe
ele tenha sido concebido como um elaborado trabalho de arte.
Muitos especialistas em criptografia que lidaram com o Manuscrito
Voynich acreditam que não existe uma tradução coerente, entretanto novas
gerações ainda tentarão decifrar os mistérios antes dese darem por
vencidos.
Colin Wilson, O Manuscrito Voynich e o Necronomicon
Antes de tudo é preciso deixar uma coisa bem clara. O Necronomicon nunca existiu, trata-se de uma obra de ficção inventada por H.P. Lovecraft. Mas é impressionante quantas pessoas acreditam (ou pior) querem acreditar que ele existiu - ou ainda existe
O Documento Voynich por algum tempo ofereceu a esses defensores de
teorias conspiratórias um alento e uma possibilidade de que o famoso
livro blasfemo seria na verdade o próprio Manuscrito Voynich escrito em
um idioma secreto para preservar assim os seus segredos profundos.
O elo entre esses dois misteriosos tomos - Voynich e o Necronomicon -
foi levantado primeiro pelo escritor britânico e membro do Círculo
lovecraftiano Colin Wilson. Wilson tratou a ficção de
Lovecraft de forma bem crítica em seu livro "The Strength to Dream", e
escreveu seu primeiro conto envolvendo o Mythos, "The Mind Parasites",
em resposta a um desafio de August Derleth para que ele escrevesse no estilo consagrado por Lovecraft.
Wilson escreveu relativamente poucas estórias sobre o tema, mas muitos
fãs consideram seus contos clássicos do gênero. A primeira vez em que
Wilson mencionou o Manuscrito Voynich foi no conto "The Return of the
Lloigor", publicado pela editora Arkham House, na antologia "Tales of
the Cthulhu Mythos".
O protagonista de "Return" é o Professor Paul Lang da Universidade da
Virginia. No conto, um conhecido do Professor lhe envia uma fotocópia do
Manuscrito Voynich, que estava em poder da Universidade de Pennsylvania
(na época ele estava sendo examinado por Newbold). Enquanto Lang está
fazendo uma cópia, ele conhece um fotógrafo profissional, que está
trabalhando em uma série de fotografias coloridas do mauscrito. O
professor percebe que existem linhas desbotadas no manuscrito original
que aparecem nas fotografias, preenchendo estas linhas ele consegue
formar palavras que tornam possível decifrar o manuscrito. Ele logo
descobre que o livro foi escrito em árabe - ou melhor em Grego, usando o
alfabeto árabe. Quando finalmente termina o trabalho, conclui que o
manuscrito foi escrito por um certo Martin Gardner e é a compilação de
outro manuscrito mais antigo identificado como "um completo relato
científico do universo" ou "um documento medieval a respeito de magia,
ciência e especulação pré-Copérnica".
O Professor Lang não tem nenhum conhecimento a respeito do Necronomicon,
e é surpreendido ao saber que Lovecraft supostamente o inventou. Ele
percebe que há elementos no Manuscrito Voynich que se referem a ficção
inventada por Lovecraft e Arthur Machen (um autor galês de fantasia que
influenciou Lovecraft), e desenvolve uma teoria de que os escritores
teriam lido uma outra cópia do mauscrito em suas carreiras. Ele é
incapaz de determinar quando Lovecraft teve acesso ao texto, mas
descobre que Machen pode ter lido um texto semelhante em suas pesquisas
em Lyon ou Paris, onde tal documento estaria em poder de um Círculo de
Satanistas.
Lang decide procurar pelo Manuscrito em Melincourt, cidade natal de
Arthur Machen. Após chegar ao interior do País de Gales, o professor
acaba se envolvendo com uma conspiração engendrada por entidades
inumanas conhecidas como lloigor. O que levou Colin Wilson a relacionar
os dois livros? A melhor teoria é que em algum momento da história do
Necronomicon e do Manuscrito Voynich, ambos estiveram ligados a John
Dee.
Na vida real, John Dee pode ter sido o responsável por vender o
Manuscrito ao Imperador Rudolph II, e na ficção lovecraftiana, Dee é o
responsável pela tradução do Necronomicon para o idioma inglês. A única
falha nessa hipótese é que Wilson não menciona Dee em momento algum de
seu conto.
Com base no texto de Dan Harms
Wilson aborda novamente o Manuscrito Voynich no final de sua novela "The
Philosopher's Stone". Ao longo da trama, Howard Lester e seu colega Sir
Henry Littleway aprendem a usar suas faculdades psíquicas para evitar
os efeitos do tempo e desenvolver capacidades mentais notáveis. A medida
que eles obtém êxito em suas experiências, eles passam a ser
perseguidos por uma série de calamidades. Os dois quase morrem em um
acidente automobilístico, o irmão de Littleway, é acusado de agredir uma
mulher e estudiosos que eram amigáveis se tornam hostis.
Lester eventualmente percebe que esses acontecimentos estão ligados ao
controle mental exercido por entidades conhecidas como Os Grandes
Antigos. Eles então começam a pesquisar a respeito desses seres, e
durante sua busca pela mitologia do Mythos ficam sabendo a respeito de
Lovecraft e Necronomicon.
Certa noite, Lester descobre que Roger Littleway estabeleceu contato
mental com os Antigos. Osdois ficam sabendo através desse contato que um
volume verdadeiro do Necronomicon está escondido na Biblioteca da
Universidade da Pennsylvania sob um nome falso. Quando eles chegam ao
lugar encontram o sobrinho do Professor Paul Lang (do conto "Retun of
the Lloigor") que revela ser o Manuscrito uma versão do Necronomicon.
Seguindo as indicações de Lang, eles começam a traduzir o livro. O mais
tenebroso dos aspectos do Manuscrito Voynich, entretanto não é o texto
em si. Ao manipular o livro, Lester e Littleway descobrem que
desenvolveram psicometria - a faculdade psíquica que permite ler a
história de objetos pela manipulação dos mesmos. A leitura do Manuscrito
faz com que eles terminem por quase despertar um dos poderosos Antigos
que estava hibernando.
O boato sobre a suposta conexão entre "O Manuscrito Voynich e o
Necronomicon" pode ser atribuído a dois fatores. A ficção de Colin
Wilson; "Return" apareceu primeiro em Tales of the Cthulhu Mythos,
talvez a mais importante antologia escrita sobre o Mythos de Cthulhu. E
ao estilo de Wilson, que consegue a façanha de misturar fato e ficção de
tal forma que é difícil separar um do outro. Lovecraft também dominava
essa técnica, mas Wilson consegue inserir elementos tão verossímeis que a
realidade e ficção se fundem nas suas tramas.
Um leitor desinformado ao saber da existência do Manuscrito Voynich pode
supor que o Necronomicon também existe. Wilson parecia estar ciente do
que havia criado. Certa vez, ele comentou que recebia frequentemente
cartas de leitores que afirmavam possuir exemplares verdadeiros do
Necronomicon ou que haviam quebrado o código Voynich e descoberto que o
autor estava certo. Percebendo o boato que havia iniciado, Wilson pediu
que seus editores publicassem um comentário nas edições em que suas
estórias fossem publicadas, informando aos leitorres que o Manuscrito
Voynich real jamais havia sido traduzido.
De pouco adiantou. Ficção se misturou de tal maneira à realidade que
muitos hoje em dia acreditam não apenas que o Necronomicon existe, mas
que o Manuscrito Voynich é verdadeiramente uma cópia da "Bíblia do
Mythos". Teoristas da conspiração afirmam ainda que especialistas em
criptografia conseguiram traduzir o Manuscrito na íntegra, mas que o
segredo contido em suas páginas é tão tenebroso, tão assustador que os
acadêmicos julgaram necessário censurar sua divulgação para o público em
geral.
A verdade provavelmente só saberemos se um dia o Manuscrito Voynich for
realmente decodificado. Infelizmente até o momento não houve progresso
nesse sentido e o Manuscrito permance como um dos grandes enigmas do
mundo.
Com base no texto de Dan Harms
Via: Mundo Tentacular
.jpg)



























0 comentários:
Postar um comentário