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Nacional Socialismo - Nazismo e o ocultismo

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Bem antes de seu tempestuoso desaparecimento em 1945, o movimento Nacional Socialismo ("nazismo") da Alemanha já estava associado a tradições ocultistas, e, recentemente, surgiu uma boa quantidade de livros na maioria das línguas ocidentais falando de diversas conexões entre o nazismo e o ocultismo. Do ponto de vista factual, a maior parte desses livros é inútil -  repletos de erros óbvios, distorções graves e generosas porções de fantasia e de invenção.
No furor resultante, as poucas obras históricas e sérias sobre o tema receberam pouca atenção, e as evidências reais sobre o ocultismo nazista foram bastante negligenciadas.

Portanto, uma das principais tarefas na discussão das dimensões ocultistas do nazismo é eliminar a selva de desinformação que cresceu ao redor das ruínas do Terceiro Reich. Não existe, por exemplo, um único fragmento de evidência que mostre que Hitler ou qualquer outro oficial nazista importante tenha demostrado interesse específico pela "Lança do Destino", que teria perfurado o flanco esquerdo de Jesus de Nazaré, e o livro que apresentou essa ideia, um best seller, inclui uma série de imprecisões igualmente improváveis. Do mesmo modo, a sugestão de que os nazistas seriam títeres de sinistros adeptos tibetanos, ou que estariam em contato com superseres que habitariam o interior da Terra oca, são relevantes para o estudo do folclore ocultista do século XX, mas não tem nada que ver com o que estava acontecendo na Alemanha entre 1919 e 1945.

Por trás de toda fumaça, contudo, há certa quantidade de fogo. Embora as declarações mais extremas sobre a influência ocultista sobre o nazismo (e vice-versa) possam ser descartadas, resta um núcleo de fatos negáveis. Os pontos a seguir foram solidamente documentados.

(a) A idelogia da Alemanha nazista foi, em grande parte, inspirada nas sociedades ocultistas alemãs e austríacas ligadas à Ariosofia, um desdobramento racista da Teosofia que surgiu no início do século XX;

(b) O próprio Partido Nazista organizou-se originalmente como braço político da Thule-Gesellschaft, uma sociedade secreta intimimamente ligada à mais importante ordem esotérica arisófica da Alemanha;

(c) Membros importantes do Partido Nazista, inclusive o próprio Hitler, estavam direta e pessoalmente envolvidos em algumas forma de estudo ocultista.

 

Esses três pontos já deixam claro que a dimensão ocultista do nazismo não pode ser simplesmente descartada. Embora muitos ou outros fatores tenham se combinado na Alemanha das décadas de 1920 e 1930 para que o nazismo se lançasse ao mundo, a contribuição da Ariosofia e de outros elementos das tradições ocultistas ocidentais não foi pequena. 

Portanto, as origens do nazismo podem ser localizadas na Ariosofia, movimento ocultista que surgiu na Áustria e na Alemanha por volta do ínicio do século XX. O escritor e ocultista austríaco Guido von List, uma figura importantíssima da Ariosofia, foi que reintroduziu o estudo das runas no ocultismo moderno e glorificou as antigas tribos germânicas e sua sabedora mágica em seus escritos. Segundo List, esta sabedoria teria sido posse dos armanen, uma casta de reis sacerdotes entre os antigos germânicos. List também lidou com profecias, e na última parte da sua vida escreveu muito sobre die Starke von Oben,  "o Poderoso do Alto", que em breve apareceria e libertaria a raça ariana de seus supostos opressores judeus. A Guido von List Society, fundada por admiradores de List, combinava um interesse pela religião pagã alemã e magia com fortes posições políticas racistas e de direita. Seu círculo interiror, o HAO, de Hohere Armanenorder [Ordem Armanen Superior]. praticava rituais de magia baseados nas teorias de List.

Havia outro ocultista austríaco associado a Lista, Jorg Lanz von Liebenfels [criador do termo Ariosofia - N. do E], ex-monge cisterciense que alegava que a humanidade moderna era fruto do cruzamento entre antigos super-homens arianos e anões subumanos pervertidos sexualmente. [Em uma doutrina que ele chamou de Teozoologia]. Membro fundador da Guido von List Society e editor de uma das principais revistas racistas da Áustria, Ostara, Lanz von Liebenfels fundou sua própria ordem esóterica, a Ordo Novi Templi [ONT, ou Ordem dos novos Templários], que exigia que os candidatos passassem por testes de pureza racial antes de poderem entrar e desenvolveu uma complexa liturgia de rituais dedicados a restaurar em seus membros os poderes eletropsíquicos perdidos.

Na Alemanha, essas mesmas correntes de pensamento encontraram um mercado pronto nos círculos nacionalistas e antissemitas no período anterior á Primeira Guerra Mundial. Por volta de 1910, o ariosofista alemão Hermann Pohl começou a reunir materiais para uma ordem ocultista, a Germanenorden, fundada oficialmente em 1912. Parte movimento político secreto, parte sociedade mágica, a Germanenorden inspirou-se profundamente nas ideias de Guido von List. As diferenças entre as elas ocultistas e políticas da ordem levaram a um cisma em 1916.

Em 1917, o ramo de Munique mais ocultista, formou a Germanenorden Walvater e passou a ser comandado pelo aventureiro Rudolf von Sebottendorf, que aumentou em sete vezes o número de membros e deu-lhe o pseudônimo público de Thule-Gesellschaft, a Sociedade Thule. Durante a tentativa de revolução comunista na Baveira que se seguiu á derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, s Socieade Thule teve um papel central na organização da resistência de direita aos comunistas.

 


A Sociedade Thule também organizou um partido político, o Deutsche Arbeipartei [DAP, ou Partido dos Trabalhadores Alemães], para mobilizar os setores mais conservadores da classe operária. Na noite de 12 de setembro de 1919, um veterano austríaco chamado Adolf Hitler foi a uma reunião da DAP e entrou numa acalorada discussão política. Alguns dias depois, o partido convidou-o para participar de seus quadros. O "Poderoso do Alto" de Guido von List tinha surgido.

Hitler já conhecia o ocultismo. Segundo um amigo da época de Viena, ocultismo, religiões orientais e astrologia eram parte importante das leituras do futuro Fuhrer. Enquanto morou em Viena, adquiria regularmente a revista de Lanz von Liebenfels, Ostara, e chegou a visitar a ariosofia para completar sua coleção. Os textos e comentários registrados de Hitler mostram que ele não nutria nada exceto desprezo pela ala folclórica da Ariosofia, o ramo que procurou reviver o antigo paganismo e as tradições populares alemãs, mas boa parte da ideologia racial e do programa político de Lanz von Liebenfels encontraram espaço nos planos de Hitler.

Durante os primeiros estágios da sua ascensão ao poder, Hitler foi auxiliado por membros da Sociedade Thule, cujas conexões com os bávaros de direita ricos e influentes mostraram-se cruciais para que o pequeno e mal organizado DAP se transformasse na Nationalsozialistiche Deutsche Arbeipartei [NS- DAP, ou Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães]. Quem teve um papel especial nele foi Dietrich Eckart, escritor e ocultista ariosofista, que na verdade não era membro da Sociedade Thule mas se relacionava com muitos lideres da Thule. Eckart emprestou livros para Hitler, ajudou-o a aprimorar sua retórica e suas maneiras, e o orientou nos primeiros estágios de sua carreira política. Diversos livros afiram que Eckart também foi o mentor e iniciador de Hitler no ocultismo, e embora isso não tenha sido provado, certamente Eckart tinha qualificações para o papel.

Outra figura significativa foi Rudolph Hess (1894-1987), mebro da Sociedade Thule que também pertencia ao grupo de ocultista francês de direita Les Veilleurs e pode ter transferido informações entre os dois grupos. Não muito depois do surgimento de Hitler, Hess tornou-se um importante membro do Partido Nazista, chegando à posição de vice-fuhrer, que manteve até 1941. Hess era ocultista sério, estudante de astrologia e dos ensinamentos antroposóficos de Rudolf Steiner.

Na noite de 10 de maio de 1941, como parte de uma série de eventos que ainda não fora explicados adequadamente pelos historiadores, Hess foi para a Escócia pelos historiadores, Hess foi para a Escócia num avião ME-110 da Luftwaffe. A data era de grande significado astrológico - Mércurio, Vênus, Júpiter, Saturno e Urano estavam em conjunção com o Sol, Marte formava quadratura com todos eles e a Lua - e, segundo diversos ralatos, Hess usou uma coleção de talismãs e artefatos mágicos durante a viagem. O propósito dessa viagem nunca foi conhecido, embora tenha havido muita especulação. Feito prisioneiro pelas autoridades britânicas durante a guerra, foi condenado à prisão perpétua em Nuremberg e mantido na prisão de Spandau, em Berlim, até morrer, em 1987.

Outra figura importante na interface entre o nazismo e o ocultismo foi Heinrich Himmler (1900-1945), que se filou ao NSDAP em 1919 e tornou-se lider SS, na época uma tropa voluntária de nazistas que fazia a segurança particular de Hitler, em 1929. Profundamente envolvido em estudos ocultistas, Himmler imaginava-se como a reencarnação do rei alemão medieval Heinrich I, e se interessava pelo lado folclórico e pagão do movimento ariosófico. Sua sua liderança, a SS assumiu muitas das características de uma ordem esotérica ariosófica.



 Em 1933, Himmler ocupou Wewelsburg um castelo renascentista em ruínas, e transformou-o num centro de rituais nazistas, onde seus oficiais mais antigos da SS se reuniam três ou quatro vezes por ano para trabalhos rituais e meditações ocultistas. Em 1935, organizou um escritório especial de pesquisas da SS, a Ahnerber [ Sociedade para Pesquisas e Educação da Herança Ancestral]. Embora seus projetos de pesquisa se estendessem em várias direções, a principal missão da Ahnenerbe era estudar a pré história da Alemanha, para o que reuniu enormes arquivos sobre feitiçaria, Maçonaria e muitros outros tópicos de interesse ocultista.

O papel exato do envolvimento com o ocultismo dos líderes nazistas no trabalho do estado nazista, na condução de sua máquina de guerra e no planejamento e execução do Holocausto tem sido alvo de acaloradas discussões. Tentativas de definir o programa nazista como algo puramente ocultista são tão enganosas quanto aquelas que ignoram todo e qualquer aspecto ocultista no Terceiro Reich. A ocultista inglesa contemporânea, Dion Fortune, que provavelmente vivenciou intensamente o cenário mágico da época comentou com perspicácia:

Há duas escolas de pensamento no grupo de seguidores próximos do Fugrer - Aqueles que acreditam na invencibilidade da força física e se baseiam na organização do plano mundano para atingir seus objetivos; e um grupo relativamente pequeno e em aparência obscuro de pessoas que percebem que há forças sutis que podem ser chamadas para servir às suas metas. Hitler se vale de ambos como seus instrumentos. (Fortune, 1993, p.60.)

Em última análise, nem o lado físico, nem o lado ocultista do nazismo mostraram-se capazes de defender o Terceiro Reich do turbilhão de violência que desencadeou sobre si mesmo; e as evidências que poderiam resolver a questão sobre as dimensões ocultistas do nazismo desapareceram quando os bombadeiros aliados arrasaram as cidades alemãs e os exércitos aliados ocuparam os destroços. A última oportunidade de compreender os fatos pode ter sido em Nuemberg, nos julgamentos dos crimes de guerra, e outros fatores afastaram essa possibilidade, provavelmente de modo definitivo. Segundo Airey Neave, um dos promotores ingleses nos julgamentos, muitas evidências que mostrariam o lado ocultista do nazismo foram afastadas proposisalmente pelo Tribunal Militar Internacional como bizarras demais para ser incluídas. Acreditava-se que tais evidências poderiam permitir que os criminosos de guerra nazistas alegassem insanidade, ficando livres das penas por seus crimes.

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