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Pacto

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A ideia de se fazer um pacto com o Diabo, ou de vender a alma em troca de poderes mágicos ou de riqueza terrena, é uma invenção cristã, surgida na tradição cristã no final do período romano. Entre os primeiros relatos, temos a história de Teófilo, o tesoureiro da Igreja em Adna, que teria vendido a alma ao diabo no início do século VI para ser nomeado bispo de Adana. A história de suas negociações com Satã, seguidas por arrependimento e enfim salvação, foi repetida e aumentado ao longo do séculos.

A ideia do pacto diabólico teve consequências graves sobre a história da magia. Segundo a doutrina cristã ortodoxa, a magia era possível apenas por meio de pactos feitos com o Diabo. Os pais da Igreja Origenes (185-254 E.C) e Agostinho de Hipona (354-1430 e.c) eram favoráveis a essa teoria, que recebeu o selo de aprovação de Tomás de Aquino (1227-1274), o mais importante teólogo católico da Idade Média.

No final da Idade Média, essa ideia tornou-se o centro da teoria cristã da bruxaria, e serviu de justificativa séria para os horrores sofridos pelos acusados de bruxaria na era das fogueiras. Tanto teólogos como caçados de bruxas concordavam que, como a magia requeria um pacto com o Diabo, quem quer que praticasse magia deveria ter feito um pacto mesmo que não tivesse conhecimento disso; esse tipo de pensamento era usado para justificar a definição de magia como forma de heresia, proporcionando aos inquisidores uma arma da qual seria quase impossível escapar. Discussões detalhadas do pacto e de sua natureza apareceram em manuais de caças às bruxas como o Malleus Maleficarum (1486), e pactos escritos apareciam de vez em quando nos julgamentos pro bruxaria - embora nínguem tenha explicado como esses pactos foram tirados dos arquivos de Satã.

A popularidade do conceito do pacto, ainda mais depois que ele assumiu sua forma clássica nas lendas de Fausto, acabou assegurando sua presença na prática mágica, especialmente no pantanoso terreno da goética. Os primeiros grimórios - "gramáticas" de magia - como as Chaves de Salomão, apresentam o mago goético como o mestre absoluto dos espíritos, comandando-se os expulsando-os em vez de negociar com eles. Alguns dos manuais mais recentes, como o Grande Grimório, por outro lado, incluem instruções para se fazer o melhor negócio possível com os poderes do Inferno, ou sugerir modos pelos quais um pacto, uma vez feito, pode ser contornado por magos astutos. Por motivos óbvios, essas tradições - que nunca foram muito desseminadas em círculos mágicos, mesmo em seu apogeu - caíram totalmente em desuso na época do ressurgimento mágico do século XIX e foram ignoradas desde então.

A ideia de um pacto com o Diabo continua a existir entre cristãos fundamentalistas modernos, que parecem ter aprendido muito pouco desde o século XV, e podem ser encontradas em áreas de folclore moderno bastante influenciadas por crenças fundamentalistas. O furor dos "abusos em rituais satânicos" do final do século XX é um bom exemplo deste último, e referências a "pactos com Satã", indistinguíveis daquele supostamente feito por teófilo, podem ser encontradas em algumas fontes critãs sobre o tema.

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